Insólidos é uma série que está constituída, hoje, pelo desdobramento de apenas quatro negativos em preto e branco encontrados em dois países diferentes. Nessa série iniciada em 2014, a artista continua perseguindo o mesmo aspecto ‘insólito’ dentro das fotografias familiares, que em 2005 gerou a série Frutos estranhos, insistindo mais uma vez em como a percepção das imagens é alterada quando as adequamos a suportes diferentes e inusitados. Dessa maneira, o espectador pode focar e perceber melhor o significado e menos o documental das fotografias. Por outro lado, o procedimento de sobreposição de camadas se assemelha ao modo de construção de Matéria de Poesia (2008-2012). Entretanto, se em Matéria de poesia a condensação das imagens dos slides se dava no plano digital para gerar uma única imagem, plana e compósita, nos Insólidos a soma das imagens se dá num material bastante palpável e nobre: a seda.

Na língua portuguesa, o neologismo ‘insólido’ foi inventado como antônimo para a palavra ‘sólido’ e ao mesmo tempo comenta o ‘estado físico’ da própria obra, baseada na reapresentação de fotografias antigas. Esta pequena série é baseada em fotografias de locais ou ações misteriosos, cada uma impressa em várias camadas de organza de seda pura. A sobreposição dessas camadas gera um efeito de densidade e sutileza de tons, além de uma real tridimensionalidade, visual e tátil, entretanto, uma ou duas camadas de seda pura não são cópias da mesma imagem mas, de uma outra fotografia, como se fossem fantasmas intrusos imantando ou assombrando a fotografia principal.

As fotografias originais imbricadas nessa construção não são provenientes do mesmo repertório, nem do mesmo país. A ‘espessura’ da imagem é dada não apenas pela tridimensionalidade gerada pela soma e sobreposição das camadas de seda mas, também, pela impossibilidade de distinguir, analisar todos os elementos que constituem essa imagem misteriosa, densa mas translúcida. Entre as camadas de seda existem objetos que flutuam e confundem o espectador. Afinal, quais objetos são reais ou quais são apenas imagens sobre a superfície da seda? O que se pretende, aqui, é o investimento no jogo entre transparência e opacidade, entre a superfície plana da fotografia tradicional/analógica e o ‘corpo fotográfico’, hoje, em tempos digitais, desprovido de volume.

Buscar a profundidade na superfície delgada e plana da película ou melhor, encontrar o abismo dentro do raso, sempre fez parte do  repertório de obsessões da artista.

Insólidos is a series that is made today through the sequential use of only four black&white negatives, found in two different countries. In this series started in 2014, the artist continues pursuing the same 'unusual' [‘insólito’, in Portuguese…] aspect within the family photos, which in 2005 generated the series called Strange Fruits, insisting once again on how the perception of the images is changed when one adapts them to different and unusual supports. That way the viewer can focus and reach better and more the meaning, and less the document. On the other hand, the procedure of overlapping layers is similar to the construction mode of Matter of Poetry (2008-2012). However, if in Matter of Poetry the condensation of the slide images happened in the digital field to generate a single, flat and composite image, in Insólidos the sum of the images takes place in a very tangible and noble material: the silk cloth.

In Portuguese language, the neologism 'insólido' was invented as an antonym for the word 'solid' but, at the same time, it comments the 'physical state' of the work in itself, based on the re-presentation of old photos. This small series is based on photos of mysterious places or actions, each one printed in several layers of silk organza. The superposition of these layers generates a density effect and subtle tonalities, in addition to an actual three-dimensional aspect, visual and tactile. However, one or two layers of silk are not copies of the main photo but, of another one, inserted between the original layers; like intruder ghosts, haunting and magnetizing the hybrid photograph.

The original photos imbricated in this construction don’t come from the same repertoire, or even from the same country. The 'thickness' of the image is given not only by the three-dimensionality generated by the sum of overlapped silk layers but also by the impossibility to distinguish and to analyze all the elements that constitute this mysterious image, dense but translucent.

Among the silk layers, some objects float and confuse the viewer. After all, what objects are real and which ones are just pictures on the surface of silk? The aim here is to invest in the game between transparency and opacity, between the flat surface of traditional / analogue photography and the 'photographic body', today, in digital times, deprived from volume.

To search depth in thin and flat surface of film or rather, find the abyss in the shallow, has always been part of the artist's repertoire of obsessions.