Cerimônia do Adeus, 1997-2003

40 fotografias digitais, laminadas  sob acrílico
50 x 68 cm, cada
1997/2003

O que me levou a fazer a série Cerimônia do adeus foi minha própria lembrança das documentações de casais de noivos, ao sair da igreja. Muitos álbuns familiares tinham uma fotografia dos noivos dentro do carro, como a última imagem da cerimônia. Meu pai, por exemplo, fotografou uma das minhas tias dentro do carro agitando a mão ao dizer adeus pela janela em meados da década de 1950 e usei essa imagem pela primeira vez em 1988.

Esta última foto simboliza de alguma forma, o fim do ritual de passagem e ocorre em quase toda documentação de casamento no Brasil e em Cuba, principalmente após a Segunda Guerra Mundial. Pelo menos em nossos respectivos países, os carros sempre representaram vidas novas e prósperas, relacionadas com a maneira de viver americana. Quando fui a Cuba pela primeira vez, em 1994, para participar da 5a Bienal de Havana, visitei um estúdio fotográfico e recebi quilos de negativos de séries de retratos de casamento.

Todo o ritual foi documentado exatamente da mesma maneira - na frente do espelho, no sofá, o casal que assina o livro, o adeus dentro do carro. A repetição das poses me surpreendeu muito e eu decidi fazer uma série de retratos de casais dentro do carro, que eu finalmente apresentei na seguinte Bienal de Havana, em 1997. O que também me interessou era algo que era muito maior do que a cena enquadrada: ninguém pode escapar de uma ilha usando um carro. A representação simbólica do adeus ao antigo e consequente acolhimento do novo parece ser quebrado ou estranho. Além disso, esses carros específicos — modelos americanos da década de 1950, reminiscência da era pré-Revolução — significavam tudo o que o sistema político cubano queria negar ou combater, mesmo assim, eles permaneceram fortes símbolos de uma mudança de vida.



Farewell Ceremony

40 digital C-prints face mounted on Plexiglas
50 x 68 cm, each
1997/2003

What motivated me were my own memories of seeing wedding couples inside cars, as the last photograph of the ceremony. Many family albums had one. This last shot somehow symbolizes the end of the passage ritual and occurs in almost all wedding documentation in Brazil and in Cuba, mostly after the Second World War. My father, for example, photographed one of my aunts inside the car agitating the hand as saying goodbye through the window in the mid-1950s and I used this image for the first time in 1988.

At least in our respective countries, cars always represented new and prosperous lives, connected with the American way of living. When I went to Cuba for the V Havana Biennial, in 1994, I visited a photo studio and got kilos of negatives of wedding series of portraits. The whole ritual was documented exactly the same way – in front of the mirror, on the sofa, the couple signing the book, the farewell inside the car. The repetition of the poses amazed me a lot and I decided to do a series on portraits of couples inside the car, which I finally presented in the next Havana Biennial, in 1997. What also interested me was something that was much further of the framed scene: no one can escape from an island using a car. The symbolic representation of the farewell to the old and consequently the welcoming of the new seems to be broken or awkward. In addition, those specific cars — American models from the 1950s, reminiscence of the pre-Revolution era — meant everything that the Cuban political system wanted to deny or combat but, even so, they remained strong symbols of a life changing.